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Os caminhos e descaminhos do luxo contemporâneo

Na última semana, o mercado de luxo foi assunto nos principais veículos de comunicação. Tudo por que foi amplamente noticiada a repercussão negativa da informação de que a marca inglesa Burberry incinerou no ano passado cerca de 28 milhões de libras, o equivalente a 141 milhões de reais, em produtos. O motivo da ação foi evitar que as peças fossem vendidas por preços muito abaixo da média ou, ainda, fossem furtadas ou vítimas de pirataria.

Levando em consideração os últimos cinco anos, a prática atingiu um total espantoso de 90 milhões de libras, ou seja, aproximadamente 446 milhões de reais. Embora a marca tenha informado que a incineração atendeu princípios sustentáveis no que diz respeito à produção de lixo e, até mesmo, no que tange o impacto do gás carbônico no meio ambiente, minimizado através de ações compensatórias, a informação provocou uma grande polêmica.

Para analisar essa situação de forma clara, ou seja, evitando um posicionamento pré-concebido e, principalmente, deixando as paixões de lado e levando em consideração as estratégias de gestão das marcas e empresas que são responsáveis pela criação e pelo desenvolvimento de produtos e bens de luxo, é preciso analisar de maneira clara três pontos fundamentalmente distintos.

O primeiro deles diz respeito a opção da marca em adotar essa política. Antes de tudo, vale lembrar que essa prática é regularmente utilizada no mercado de alto padrão e, até mesmo, em diversos outros segmentos. Controlar o estoque e manter a estabilidade dos preços através do descarte de produtos é uma ação praticada por empresas que atuam em segmentos que vão da perfumaria à relojoaria, passando, é claro, pelo universo fashion.

Outro aspecto que tem peso decisivo nessa repercussão é, justamente, a opinião do público. Em uma época cujo nível de exigência dos clientes é muito alto e conceitos como a sustentabilidade e o consumo ecologicamente viável de produtos estão presentes de forma cada vez mais efetiva entre os desejos e anseios dos consumidores, receber a informação da destruição de peças que fazem parte do imaginário coletivo realmente tende a impactar.

Por fim, mas não menos importante, é necessário pensar o próprio mercado de luxo como uma entidade particular. A exclusividade é e sempre foi um dos principais atributos dos bens de luxo. Em outras palavras, isso significa que se todo mundo tiver acesso aos mesmos produtos, um dos conceitos fundamentais do universo do luxo, que é a valorização do apelo individual e particular, perde muito de sua representatividade.

Sem sombra de dúvidas, a Burberry é, atualmente, um autêntico ícone do mercado de luxo, amplamente prestigiada pela indústria e pelo público e a recepção negativa da ação destaca que nenhuma marca é intocável ou inatingível. Os caminhos e descaminhos das marcas de luxo, mais do que nunca, estão sob o olhar atento dos consumidores que, cada vez mais, exercem sua influência da forma mais democrática possível: fazendo valer sua opinião.

Crédito da imagem: Reprodução.

Elizandro Duarte

Jornalista com especialização na área de Empreendedorismo, com MBA e mestrado no segmento turístico. Assina a coluna 'Jornalismo de Luxo'.