HomeColunistasEstar fora das redes sociais também é uma estratégia de marketing digital? Manu Berger 11 janeiro, 2021 ColunistasMais de 2,5 bilhões seguidores sentiram a falta de uma conta do Instagram que simplesmente sumiu nesse mês. A Bottega Veneta deletou, no último dia 5, suas páginas, incluindo Twitter e Facebook, numa ação completamente diferente e misteriosa. E ficamos aqui, nos questionando o que levaria uma empresa a tomar tal atitude, ainda mais quando se fala de uma marca com produtos altamente instagramaveis?A Bottega Veneta tem apenas 55 anos de existência e é uma novata no mercado de luxo, mas com reconhecimento por sua atuação delicada e discreta. Sua principal característica é a partir de uma visão minimalista, com a ausência da logo estampada em suas peças, além de não apostar em celebridades para campanhas, sendo assim, é uma brand identificada por aqueles que conseguem visualizar os códigos de design autoral da marca.Há 3 meses atrás, em outubro de 2020, a marca realizou um desfile presencial, porém secreto e apenas para um grupo pequeno e seleto de convidados, como Kanye West. Eles conseguiram manter o “Salon 01 London” extremamente restrito e em segredo, até dezembro, quando a imprensa recebeu livros que mostravam as imagens da apresentação, as inspirações da Bottega Veneta e um vídeo divulgação.Na época, o diretor criativo Daniel Lee revelou à Vogue América que não acreditava em desfile de moda digital, contrariando todas as ativações do período da pandemia. Talvez esse tenha sido o recurso que gerou essa atitude, ainda não explicada, de estar off-line.É incrível e até contraditório imaginar que por conta do isolamento social, a participação online transformou nossa didática e nossa rotina, fazendo com que estivéssemos completamente online e expostos nas redes sociais. Eu, inclusive, falei várias vezes sobre a necessidade de investir e promover em marketing digital, como uma aposta relevante para se ter uma comunicação 360 graus de marca. E a Bottega vem na contramão para quebrar um paradigma que achávamos não ser possível: a ausência da exposição como uma ferramenta para fidelizar e criar sua própria comunidade de fãs e consumidores.Vale ressaltar que Daniel Lee criou sua personalidade profissional ao lado de Phoebe Philo na Celine, uma marca que não tinha site, nem ecommerce e que reverenciava uma exposição mais particular, promovendo lojas como espaços culturais, frequentados, inclusive, por consumidores que estão fora desse movimento digital.Não podemos deixar de pensar que sair do Instagram também é uma maneira de fazer marketing, porém reformulando sua atuação com uma estratégia mais exclusiva, estando apenas presente nas divulgações dos fãs da marca, criando um círculo fechado e particular.Números também exclusivosA Bottega Veneta foi comprada pelo Grupo Kering em 2001, decolou com um crescimento de 2 dígitos até o ano de 2005 e ultrapassou a marca de 1 bilhão de euros em 2015. Porém, nesse mesmo ano, a marca viu sua ascensão desacelerar por conta do alto preço de seus produtos e um posicionamento muito restrito, com forte atuação no público asiático. Há três anos atrás, seu lucro operacional era de 242 milhões de euros, – 17,7% comparado aos anos anteriores.Por isso que, em 2018, depositaram a confiança de uma renovação criativa em Daniel Lee, que havia sido diretor de design de prêt-à-porter. Nessa época, o Instagram da marca foi reiniciado e apresentava uma página em branco e, logo depois, fotos registradas por Tyrone Lebon para sua primeira campanha onde já era possível identificar uma atitude mais descontraída e menos engessada.Atualmente, os artigos de couro representam 84% de vendas totais da Botega e 6% de prê-à-porter. O intuito, que nunca foi desconhecido ao mercado, é aumentar de 6 para 15% com Daniel Lee que cobre e recria em todas as categorias da marca.