Colunistas
Sheika Mozah, uma mulher para se inspirar

Eu me lembro quando comecei a trabalhar em bares e restaurantes, me dedicando especialmente ao conhecimento de bebidas, há mais de 15 anos, e sempre foi comum eu ser a única ou uma das poucas mulheres presentes nesse cenário. Então, sempre me chamou muito atenção a atuação de mulheres principalmente nesse universo em que decidi me dedicar. Recentemente produzi alguns conteúdos falando sobre a importância das mulheres na história do vinho, da cerveja e até do charuto, trazendo esse olhar mais profundo sobre como as mulheres podem mudar o curso da história com seu dinamismo, coragem e trabalho árduo. Ao longo dos anos, sempre surgiu essa curiosidade dos jornalistas e amigos sobre como É atuar em um mercado dito masculino e como conseguir atingir tal sucesso. Tenho muito orgulho de, através da minha trajetória, encorajar mulheres a seguirem seus sonhos através do trabalho, especialmente a nova geração, que já encara com entusiasmo a ideia de trabalhar nesse setor.

Nunca tive a pretensão de levantar nenhuma bandeira ou de ser precursora de algum movimento, mas, sendo sommèliere internacional de vinhos e cigar sommelier internacional, algumas situações foram naturalmente acontecendo e posso dizer que a minha posição foi brilhantemente ocupada pela destreza de ser mulher e de tanto me empenhar para a ser a melhor que posso ser em tudo o que eu faço.

Meu intenso e constante esforço sempre me levaram para desbravar novas fronteiras e há menos de 2 meses recebi uma proposta inimaginável: ser Cigar Sommeliere no Oriente Medio. E certamente uma das primeiras questões que surgiu foi: “Como será para uma mulher trabalhar com álcool e charuto nessa cultura?” Então resolvi me aprofundar e estudar sobre o país mais rico do mundo, o Qatar! Sabemos o quanto a figura de uma mulher no Oriente Médio pode estar sempre à sombra da imagem de um homem. Mas em Doha, a capital do país, apresenta um cenário bem diferente, com uma cultura mais aberta ao novo mundo. Me surpreendi ao descobrir que o país que sediará a copa em 2022, tem uma mulher de enorme destaque internacional, a Sheika Mozah, a primeira dama do Qatar. Com sua forte presença pública, Sheika Mozah esbanja trabalho e sabedoria ao lidar com questões delicadas e importantes para o mundo.

Sendo a segunda esposa, de três, do Emir do Qatar, o príncipe Hamad bin Khalifa Al-Thani, estudou psicologia no país e estagiou nos Estados Unidos, é doutora honoris causa por cinco universidades e hoje é Embaixadora Especial da UNESCO, sendo fundadora da “Educate a Child”, ajudando crianças em situações de risco ao redor do mundo. Participou de assuntos governamentais, reformas sociais, mostrando sua personalidade forte o que causou forte impacto na sociedade.

Sua contribuição é tão incisiva que o Qatar é considerado um dos países mais liberais em relação aos direitos das mulheres: podem votar, dirigir, e se vestir de maneira não tão rigorosa. Pelo Jornal “The Times” foi considerada uma das 25 líderes mais influentes do Oriente Médio e pela Forbes uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo.

Aliás, ela é referência também de estilo e modernidade. O Sheik permitiu que Sua Alteza não usasse o hijab (para cobrir rosto e cabeça), fazendo com que ela mostrasse ao mundo a sua individualidade, gosto irreverente e elegante, desfilando apenas turbantes, com extrema feminilidade.

Esses são alguns de muitos motivos para me inspirar na Sheika, estando aqui no Qatar. Para mim, é muito importante o símbolo da minha presença neste país, sendo a primeira mulher brasileira Cigar Sommeliere na maior rede hoteleira do mundo, tenho certeza de que Sua Alteza teve participação em abrir os caminhos que eu e tantas outras irão percorrer e, agora, também faço parte desta corrente para inspirar as mulheres a serem quem elas quiserem ser em qualquer lugar do mundo.